sábado, 25 de julho de 2015

Acúmulos

 Foto: Suzana Pires

No contexto da arte atual nos deparamos com distintas possibilidades que hibridizam processos de criação por meio de uma postura crítica diante de questões como efemeridade e excessos provenientes de materiais descartados. Nesse cenário, situa-se a artista Isabel Sommer que, no ato de escolher e recolher objetos do cotidiano, se aproxima do bricoleur que, segundo o antropólogo Lévi-Strauss (1976), coleta materiais e resíduos que podem ser reaproveitados algum dia. A proposição de uma outra estrutura para materiais e resíduos encontrados no cotidiano, com certeza, são assimilados pela artista que, constantemente, busca um novo sentido para os excessos e os acúmulos produzidos pela sociedade de consumo.  Para a exposição Acúmulos, Sommer, com um olhar atento e sensível, apropria-se da estrutura de um simples sachê de chá, cujo formato é modificado em uma dimensão maior para ser reproduzido 400 vezes. Esses inúmeros sachês são pigmentados com terra, café e distintos chás pela artista, ao mesmo tempo em que são preenchidos e aromatizados com alfafa e hortelã. Ao serem reordenados e suspensos nas paredes do espaço expositivo da Pinacoteca da Feevale, os objetos são deslocados da função original para o qual foram produzidos, assumindo uma significação poética, evocando memórias, lembranças e outras partilhas sensíveis (Rancière, 2009) que podem ser vivenciadas pelo observador.

Lurdi Blauth
Doutora em Poéticas Visuais.
Professora do Centro Universitário Feevale.